16 nov 2022 Fonte: Revista da Plataforma Portuguesa das ONGD Temas: Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global, Alterações climáticas e ambiente

Este artigo foi originalmente publicado na Edição da Revista da Plataforma Portuguesa das ONGD de novembro de 2022 "Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global em Tempos de Mudança" Leia ou faça download da edição completa da Revista aqui.
Por Ana Isabel Castanheira e Mónica santos Silva, IMVF- Instituto Marquês Valle Flôr, #Campanha ClimateofChange
Podemos falar de justiça social, sem falar de justiça ambiental? E podemos abordar as dimensões da justiça social, sem falar de ambiente? E podemos falar de ambiente sem considerar outras dimensões do desenvolvimento sustentável?
As várias abordagens ao tema das alterações climáticas estão condicionadas aos objetivos de aprendizagem definidos e à perspetiva das “educações para” que queremos trabalhar.
Em Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global (EDCG), a perspetiva de análise multidisciplinar e holística para a interpretação das causas e consequência das alterações climáticas baseia-se no conjunto de valores e princípios que orientam a nossa ação em cidadania global.
Quando definimos a EDCG como “um processo de aprendizagem e transformação através da ação individual e/ou colaborativa orientada para a justiça social e o bem comum. A partir de uma tomada de consciência assente numa interpretação crítica da realidade, a Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global inter-relaciona um tema concreto com as causas das desigualdades onde quer que elas existam” (in Ficha Temática “Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global, Plataforma Portuguesa das ONGD, 2018) torna-se claro que a abordagem que iremos fazer ao tema das alterações climáticas assenta no conhecimento e na interpretação critica da realidade, sempre orientada para a tomada de consciência, para a facilitação de processos de aprendizagem, a consciencialização e a mobilização dos indivíduos.
É precisamente na dimensão dos impactos que a EDCG se apresenta como uma ferramenta de análise das causas e consequências das alterações climáticas na promoção da justiça social e do bem-comum para todos/as em todas as geografias
Os impactos das alterações climáticas são vistos em todos os aspetos do mundo em que vivemos e representam uma ameaça ambiental e um desafio à prosperidade social e económica. Contudo, os impactos das alterações climáticas são desiguais em todo o país e no mundo - mesmo dentro de uma única comunidade, os impactos das alterações climáticas podem diferir entre bairros ou indivíduos.
A nível humano são os países e comunidades vulneráveis que são atingidas de forma desproporcional pelos seus terríveis efeitos. Cheias, inundações, fogos, secas, perda e destruição da biodiversidade têm um impacto direto nos meios de subsistência, no trabalho, saúde e acesso aos direitos dos cidadãos a nível global. E sim, são os países e as pessoas que menos contribuem para a crise ambiental os que mais sofrem com os seus efeitos.
É precisamente na dimensão dos impactos que a EDCG se apresenta como uma ferramenta de análise das causas e consequências das alterações climáticas na promoção da justiça social e do bem-comum para todos/as em todas as geografias . A EDCG pode encorajar as pessoas a mudar as suas atitudes e comportamentos e também as ajuda a tomar decisões informadas. O conhecimento dos factos ajuda a eliminar o medo de uma questão que é frequentemente caracterizada pela desgraça e tristeza na arena pública.
Os processos de sensibilização sobre a importância dos temas da sustentabilidade e os impactos das alterações climáticas estão também presentes nos programas e nas abordagens dos atores do desenvolvimento. Não só porque constituem um desafio global, mas também pela pressão dos cidadãos de se dar uma resposta urgente a este tema.
Este reconhecimento que a crise climática alimenta e favorece a desigualdade social, política e económica é também trabalhado pela EDCG
Num inquérito pan-europeu realizado no âmbito da Campanha #ClimateofChange*, em cada dez jovens portugueses mais de seis (63%) estão muito ou extremamente preocupados com as alterações climáticas. A opinião geral entre os jovens em Portugal revela que 85% consideram que o modelo económico favorece os privilegiados, e por isso defendem uma economia do bem-estar. Uma economia que realmente supere as estruturas exploradoras à escala global, em vez de as perpetuar, que dê poder a todas as pessoas, em vez de concentrar o poder nas mãos de uma elite minúscula, e que respeite a natureza, em vez de a destruir.
Este reconhecimento que a crise climática alimenta e favorece a desigualdade social, política e económica é também trabalhado pela EDCG para que as respostas individuais e coletivas assentem num modelo de análise e ação estrutural, coerentes com os princípios da justiça social e da justiça climática.
Mas estará a EDCG preparada para dar resposta imediata à urgência a que as resoluções dos temas das alterações climáticas impõem? E estão as ONGD preparadas para dar resposta à tipologia de ações que são necessárias adotar? A resposta é sim. A perspetiva mais ampla de abordagens muito próprias da EDCG, ancorada nos princípios da participação, solidariedade, igualdade, coresponsabilização, coerência e equidade permitem contribuir para a informação e compreensão dos impactos das alterações climáticas e aumentar a “literacia climática” dos cidadãos orientada para a transformação social, económica, política e ambiental que necessitamos para garantir um mundo mais justo, sustentável e digno. O nosso mundo.
*Na campanha #ClimateofChange temos uma missão ousada: acreditamos que, neste mundo interligado, a única forma de avançar é enfrentar simultaneamente múltiplas crises e exigir ação para criar um futuro justo e sustentável e uma economia humana. A Campanha é financiada pela União Europeia e apoiada pelo Camões – instituto da Cooperação e da Língua

Este artigo foi originalmente publicado na Edição da Revista da Plataforma Portuguesa das ONGD de novembro de 2022 "Educação para o Desenvolvimento e a Cidadania Global em Tempos de Mudança". Leia ou faça download da edição completa da Revista aqui.